Uma pesquisa publicada na revista científica Cells revelou uma abordagem inovadora para tratar o câncer, incluindo casos metastáticos e em estágios terminais.
A técnica utiliza a engenharia genética para modificar células tumorais, permitindo que o sistema imunológico as reconheça e ataque com maior eficácia. O método trouxe resultados promissores tanto em testes com animais quanto em humanos.

Câncer disfarçado com características de porco
A solução foi inspirada em dificuldades encontradas nos xenotransplantes, em que órgãos de porcos são usados em humanos e enfrentam resistência imunológica.
Com base nisso, os cientistas criaram um vírus modificado que induz as células tumorais a produzir tipos específicos de açúcares, comuns em células de porcos. Isso faz com que o sistema imunológico reaja rapidamente, identificando e atacando as células cancerígenas como invasoras.
Essa abordagem resolve um dos grandes desafios no combate ao câncer: como as células tumorais são originadas pelo próprio organismo, o corpo muitas vezes não as reconhece como ameaçadoras. A modificação genética altera esse cenário, desencadeando uma reação imunológica mais intensa.
Testes em macacos e humanos
Os primeiros experimentos foram realizados em macacos Fascicularis, conhecidos por sua semelhança fisiológica com humanos. Os animais foram induzidos a desenvolver câncer de fígado, e os resultados foram impressionantes: enquanto o grupo que recebeu placebo sobreviveu, em média, por quatro meses, todos os macacos tratados com o vírus modificado sobreviveram por mais de seis meses.
Na fase de testes clínicos com humanos, 23 pacientes com cânceres avançados e resistentes a tratamentos convencionais participaram do estudo. Os tipos de tumores incluíam fígado, pulmão, mama e ovário. Após 36 meses de acompanhamento, os resultados mostraram que:
- Um paciente teve remissão completa;
- Oito apresentaram redução parcial dos tumores;
- Doze mantiveram a doença estável, sem progressão;
- Apenas dois não responderam ao tratamento.
Os cientistas ficaram surpresos com a eficácia da técnica em diferentes tipos de câncer, levantando a hipótese de que a resposta imunológica desencadeada seja autossustentada, potencializando o ataque às células tumorais.
Apesar dos avanços, especialistas alertam que o tratamento ainda precisa de estudos adicionais antes de ser amplamente aplicado. Há preocupações sobre o risco de uma reação imunológica exagerada, que poderia levar o corpo a atacar tecidos saudáveis.
O virologista Masmudur Rahman, da Universidade do Arizona, afirmou: “Os resultados são encorajadores, mas precisamos entender melhor quem se beneficiará mais dessa terapia e garantir sua segurança a longo prazo”.
Com informações: Catraca Livre