O ataque militar em larga escala de Israel ao Irã e a resposta do regime teocrático com uma saraivada de mísseis lançados contra o território israelense inauguraram uma nova fase no confronto entre os dois países, que a a ser direto e sem intermediários. Os sinais de ineditismo observados nesta sexta-feira indicam uma escalada prolongada e inevitável, com potencial para empurrar o Oriente Médio para outro patamar de instabilidade, arrastando também os EUA. 384u71
O bombardeio sofrido pelo Irã foi humilhante e pode ser considerado o mais significativo desde a guerra com o Iraque na década de 1980: atingiu parte de suas instalações nucleares, matou dois dos principais comandantes militares, além de cientistas nucleares de alto escalão.
O revide era previsível e veio em forma de mísseis balísticos que caíram em alvos civis de Tel Aviv e Jerusalém e obrigaram a totalidade da população israelense a se refugiar em bunkers. O Irã mostrou que, mesmo em posição defensiva, ainda tem capacidade de contra-atacar. A habitual retórica dramática trocada há quase meio século entre os dois arqui-inimigos regionais ou, finalmente, à ação bélica.
O desgastado primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta recuperar pontos com a opinião pública israelense, que desde a Revolução Islâmica convive com a ameaça de aniquilamento alardeada pelo regime iraniano. Ele justificou o ataque como solução para impedir que o programa nuclear do país produzisse uma bomba atômica.
Com isso, o premiê arrebata seus críticos e desvia o foco da guerra de Gaza, que se prolonga há 20 meses, dos julgamentos por corrupção e da combalida coalizão de extrema-direita que comanda. Na ofensiva ao Irã, o premiê mostrou cautela em não atingir alvos civis, sinalizando que a queda do regime é também um de seus objetivos nesta empreitada militar.
“Temos um inimigo comum: um regime tirânico que os esmagou. Por quase 50 anos, este regime roubou de vocês a chance de uma vida digna”, disse Netanyahu, ao dirigir-se em inglês aos iranianos.
Não ficou clara a dimensão da destruição do arsenal nuclear iraniano e se as instalações localizadas em subterrâneos a 90 metros de profundidade foram alcançadas pelas forças de defesa israelenses. “De qualquer forma, o Irã não esquecerá o conhecimento nuclear que adquiriu ao longo de décadas de desenvolvimento só porque uma instalação ou outra foi atacada”, observou o jornal “Haaretz” em seu editorial.
Quanto ao Irã, por mais vulnerável que o regime se encontre, não fazer nada diante da afronta israelense não é uma opção para o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, de 86 anos. O Mossad conduziu uma sofisticada operação dentro de seu território, contrabandeou drones e armas guiadas para lá e dizimou comandantes em uma ação coordenada.
A resposta do regime dos aiatolás é também uma questão de sobrevivência interna, mas terá que ser calibrada na medida de sua capacidade. Em poucas horas, o confronto direto entre Israel e Irã espalhou pânico entre suas populações, mas infelizmente está apenas no primeiro ato.
Com informações: G1