Clube do Livro: Escolas de São Joaquim e São Paulo retomam a magia da correspondência por cartas…

Escrever cartas, pode-se dizer, faz parte da humanidade desde a invenção da linguagem escrita. Conforme explica Fernanda Guedes (2011), “O primeiro serviço organizado de correspondência, que pode ser considerado como postal, remonta a 2400 anos  antes de Cristo. Surgiu no Antigo Egito, quando os faraós usavam mensageiros para entregar decretos em todo o território do Estado.

Com a criação da escrita, é marcante a interferência da nova tecnologia na transmissão de mensagens. Uma prova incontestável do valor das redes postais são tábuas de argila encontradas em 1886, em Tel El Amarna, que testemunham a correspondência entre os soberanos Amenófis II e III do Egito com os babilônicos no século XV a.C, pequenas tábuas de cera e, depois, os papiros eram trocados continuamente entre Roma, seus exércitos e os funcionários espalhados nos vastos territórios conquistados.

A primeira correspondência oficial, do Brasil, foi enviada no ano de 1500 por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal. Quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. O conteúdo da carta relatava o descobrimento de uma nova terra. A precariedade na organização e nos  recursos dos serviços postais, fez com que na época do Brasil-Colônia, as correspondências demorassem a chegar aos correios em Portugal” (…). (INFNET Mídias Digitais)

De la para cá, muita coisa mudou, e as correspondências aram a ser entregues em tempo real, pelos inúmeros meios de comunicação via Internet. Redes sociais, como WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter, popularizaram-se rapidamente por proporcionarem facilidade e rapidez em transmitir mensagens, imagens e emoções.

Com tanta tecnologia disponível 24h, é difícil imaginar que alguém ainda utilize os Correios para enviar cartas. Porém, duas escolas resolveram resgatar o estilo tradicional de envio de mensagens e organizaram suas turmas para uma troca de correspondências. As Escolas E.B.M.Jarbas Amarante Ferreira, da localidade do Boava, em São Joaquim, por intermédio da Professora Estela Maris Mariot Chiodelli, e EMEF Nirlando Costa Alvarenga, Santa Isabel, de São Paulo, sob mediação da Diretora Cristiane Lucinda Fernandes, da Coordenadora de Ensino Alessandra Vieira da Maia e da Professora Sandra Oliveira Santos, iniciaram o projeto em junho de 2019.

A ideia partiu da Coordenadora Alessandra, de São Paulo, publicando em suas redes sociais que buscava professoras e escolas interessadas em participar do Projeto de Correspondências. A postagem foi visualizada pela Professora Estela, que entrou em contato e deu início ao projeto em São Joaquim.

Os 22 alunos do 5º ano da Prof Estela receberam, com muito entusiasmo, o projeto e começaram a esboçar suas primeiras cartas. Como em São Paulo o 5º ano tem 26 alunos, a Prof Estela convidou alunos do 6º ano para completar esse número e garantir que todos os alunos enviassem e recebessem missivas. Após várias leituras e correções, as cartas foram envelopadas individualmente e colocadas em um pacote que foi postado nos Correios. Junto com as cartas, os estudantes enviaram lindas folhas de uma árvore da escola, pois  queriam que os alunos de São Paulo tivessem ideia de como o jardim da escola joaquinense fica lindo e colorido durante o outono.

Vamos continuar até o final do ano letivo com cartões de natal. A escrita e leitura de cartas ajuda no desenvolvimento de nossa língua, o português, e o assunto torna-se interessante porque as crianças estão se conhecendo.  Não é um texto pronto, de livro ou Internet, mas uma “conversa” através de cartas. 
Na próxima semana vamos responder as cartas recebidas. Faremos desfile de 7 de setembro e nossos estudantes querem saber se lá também há desfile de escolas.
O que achei legal foi a descoberta de meus alunos de que aquelas crianças, que moram tão longe, são iguais a eles, gostam das mesmas coisas dentro da escola.
Me chamou a atenção o gosto dos estudantes paulistas pela área de Ciências.
Os meus estão encantados com o trabalho, descobrindo novas palavras, escrevendo sobre seus sentimentos. Está sendo muito, muito interessante. Isso só acrescenta na aprendizagem.”  (Prof. Estela)

Conversamos com 3 alunos da EBM Jarbas Amarante Ferreira, que nos falaram sobre a fascinante experiência de escrever e receber cartas:

Estou achando muito legal. Estou conhecendo muito bem meu amigo lá de São Paulo. Estamos perguntando o que temos de diferente nas cidades. Até perguntei se lá tem muito vandalismo. Perguntamos qual matéria cada um gosta mais. Uma conversa quase igual a de WhatsApp, só mais demorada e mais divertida! (Cassiano Ribeiro Manique)

 

Eu estou achando muito bom. A gente pode conhecer novos amigos por cartas. (Gabriel Yuri Barbosa Orencio)

 

Eu achei bom. É legal. A experiência é divertida. Só que a gente fica com curiosidade. (Nicole Macedo Machado)

 

No dia 18 de junho, o envelope de São Joaquim foi encaminhado para os colegas de São Paulo. As cartas chegaram ao destino cinco dias depois e as respostas encontraram seus destinatários, os estudantes da escola de Boava, no  dia 27 de agosto. Foi difícil conter a ansiedade!

Há alguns anos os alunos de São Paulo trocam cartas com outras escolas do seu município, Santa Isabel, e entregam cartinhas aos motoristas no pedágio Nova Dutra. Neste ano, estão vivenciando sua primeira experiência com outros estados.

Atualmente a escrita de cartas ou a ser uma dificuldade que se tornou cada vez mais comum por conta da tecnologia. O projeto visa voltar ao ado e incentivar as crianças a se comunicarem por cartas. Nosso objetivo é que elas criem gosto pela leitura e pela escrita, e isso tem nos dado muitos resultados. Nós percebemos que as crianças do mundo atual têm muito interesse pela tecnologia, mas, quando apresentamos as cartas para eles, ficaram fascinados.  Há expectativa da chegada da carta do colega e isso nos fascinou também, então, agora, eles estão esperando a escrita, esperando a carta, esperando que o colega responda a carta deles e isso tá sendo muito legal, além de conhecerem uma cultura diferente do nosso município. Só temos a agradecer pelo carinho e envolvimento da Estela em compartilhar suas experiências com nossos alunos, que estão realmente encantados.” (Alessandra)

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Ser professor é um exercício que demanda muito tempo e paciência dos que escolheram traçar essa carreira e, por isso, alguns se destacam, assim como em todas as áreas do mundo do trabalho. Embora cada pessoa tenha características própria, que a legitima como bom profissional, algumas são comuns a todos que se enquadram na categoria de “os melhores”. Podemos, então, certamente dizer que os melhores professores são apaixonados pela profissão e, por mais que enfrentem diversos problemas cotidianos, não a trocariam por outra. Devido à paixão, promovem aulas que contagiam os alunos, até mesmo aqueles que não se identificam com a disciplina ministrada. Buscam recursos e dinâmicas que integrem todos e estimulem o aprendizado.

O envolvimento dos professores nesse projeto é uma ação louvável, denotando seu interesse pelo crescimento intelectual dos estudantes, oferecendo-lhes possibilidades para além da sala de aula, promovendo a integração e a interatividade. Parafraseando um pensamento de Bertolt Brecht, “há professores que lutam a vida toda, e esses são imprescindíveis…”

 

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Essa é uma parceria de Bia Chiodeli, redatora do São Joaquim Online Notícias, com Cintia Marinho, Instabooker, IG: @cici_books e Marcia Vidal, Ponto e Virgula Revisão de textos

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