Pedofilia: A História de Janaína, abusada, drogada e prostituída

Todas as vezes que editamos uma história, não queremos contar o que acontece nas casas das outras pessoas, mas queremos evitar que aconteça na sua casa.

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Meu nome verdadeiro não é Janaína, mas a história cruel que vou  te contar é real e acontece todos os dias com crianças perto de você. Se você conhece algum caso, denuncie! Ajude a preservar a inocência de nossas crianças.

Um dos mais temidos crimes contra a infância, a pedofilia pode ser evitada prestando atenção aos sinais de comportamento das crianças. Ao primeiro sinal de mudança de comportamento, procure ajuda. Em casos de suspeita de abusos, denuncie!
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Pedofilia: É preciso entender sobre o assunto e denunciar
Pedofilia: Por que continuamos falando sobre Pedofilia?
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Atenção: Nomes e informações pessoais serão modificados para preservar a identidade das vítimas.

 

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Nasci em uma família pobre. Éramos 3 filhos, apenas eu nasci mulher. A vida não é muito fácil quando se tem um pai agressivo, uma mãe submissa e comida faltando na mesa. É impossível dizer quantas vezes eu vi meu pai bater na minha mãe e, quando isso acontecia, as agressões voltavam-se contra mim e meus irmãos. Era inevitável. A gente nem precisava ter feito algo errado para apanhar. Quando ele estava zangado, o simples barulho da nossa respiração era suficiente para que as agressões começassem.

Eu não sei ao certo quando os abusos começaram, acho que eu ainda era bebê, porque eu demorei muitos anos para entender que aquilo era errado e que, de fato, eram abusos. Cresci com o meu pai tocando minhas partes íntimas, colocando o dedo dentro de mim, aquilo me incomodava, mas eu achava que fazia parte da vida de todas as pessoas. Pensava que era assim com todo mundo, porque eu via ele fazendo o mesmo com os meus irmãos e, embora fosse horrível, na nossa vida era normal.

Quando eu tinha 11 anos, houve uma noite em que eu estava secando a louça da janta para ajudar a minha mãe. De repente, minha avó, que morava em outra casa, chegou muito brava e iniciou uma briga. Eu não sei o motivo da discussão, mas meu pai bateu na minha avó e depois em minha mãe e ordenou que fossemos dormir, alegando que “era assunto de gente grande”. Minutos depois o silêncio tomou conta da casa e eu fui até a cozinha para tomar água e ver se estava tudo bem. Minha avó já havia ido embora e minha mãe tinha ido dormir. Então, voltei para o meu quarto, onde dormiam meus dois irmãos. Como éramos muito pobres e a casa pequena, os 3 filhos dormiam em um quarto só. Meu pai me seguiu e deitou comigo, como de costume, ficou pegando em minhas partes íntimas e começou a se masturbar na minha frente. Então ele tirou meu pijama e ordenou que eu ficasse em silêncio, depois consumou o ato. Que sensação horrível! Eu sabia que aquilo não era certo, não era bom e me deixou muito triste!

Eu não falei nada para ninguém. Sentia medo e vergonha. Porém, não foi possível esconder por muito tempo, pois os enjoos começaram poucos dias após. Foi a minha primeira gravidez. O bebê foi doado para uma comadre da minha mãe.

 

Depois que aconteceu o primeiro estupro, eles se repetiram todos os dias. Com o ar dos dias, ficou ainda pior. Meu pai obrigava a minha mãe a assistir, estuprava os meus irmãos e, para que eles aprendessem a ser homens, mandava eles me estuprarem também. Acho que aquelas cenas eram fortes demais para minha mãe, ela tentou impedir várias vezes, mas meu pai a agredia e ameaçava matar todos nós, caso alguém denunciasse.

Aos 16 anos, resolvi dar um basta em tudo isso. Carreguei na bagagem 4 filhos dados para adoção, sequelas e muitos traumas. Eu precisava mudar, eu precisava de ajuda. Mas não é muito fácil recomeçar em outra cidade e sem conhecer ninguém. Acabei morando nas ruas e, por ironia da vida, para sobreviver, fazia programas. Quando a fome chegava, cheirava cola até conseguir algo para comer.

Acabei conhecendo um rapaz por quem me apaixonei, foi a primeira vez que vi a chance de mudar de vida. Ele me ofereceu um lugar para morar e uma cama para dormir. Na primeira noite, quando deitei, achei que estava sonhando. Mas não durou muito até que todos os abusos começassem novamente. Eu fui obrigada a me prostituir e ele ficava com todo o dinheiro para comprar drogas. No começo, eu conseguia me proteger usando camisinha durante os programas. Tivemos dois filhos que me foram tirados e são criados pela avó paterna.

Pouco tempo depois, ele descobriu que programa sem camisinha era mais caro… Então, me obrigou a tirar a única proteção que eu tinha. Eu achava que não poderia ficar pior, quando descobri que estava grávida e nem sabia quem poderia ser o pai. Como ele comandava tudo o que acontecia em minha vida, fiz o primeiro aborto. Durante o período em que vivi com esse homem, foram 12 abortos, das piores formas possíveis!

Até que em 2009, ele pediu que eu guardasse uma quantidade de drogas dentro do meu corpo, como era de costume. Houve uma denúncia e a PPT (Pelotão de Patrulhamento Tático) chegou, não houve tempo para que eu retirasse a droga e jogasse fora. Fizeram os procedimentos de revista e ambos fomos presos. Ele conseguiu sair após 3 meses por ter HIV em estado avançado. Eu assumi a droga para que ele pudesse ficar livre em seu final de vida. Fiquei presa até junho de 2018. O tempo que ei reclusa, aproveitei para aprender a ler e escrever.

Com tudo o que já vivi, ainda não consegui organizar a minha vida, mas não desisto de ser feliz e viver em paz. É muito difícil encarar a vida quando não se tem uma base, quando tudo foi uma sucessão de erros. ei a vida em uma busca desesperada por alguém que me amparasse e me desse a estrutura que eu nunca tive. Nesse mundo, estar carente e desestruturado te torna um alvo fácil para drogas e exploração sexual. 

As pessoas não dão oportunidade para quem tem o meu histórico. Não confiam. Não querem por perto. Tenho recebido apoio de algumas amigas e sei quem em breve terei um trabalho sério e honesto. Quero recomeçar! E, um dia, poderei escrever o meu final feliz!

 

Essa é uma matéria editada por Beatriz Rosa Chiodeli, do São Joaquim Online, em uma parceria com o CREAS, Dra. Dayana Kisner Grings (Advogada), Karine Rodrigues (Acadêmica de Investigação e Perícia Criminal), Dra. Regiane Viana da Silva (advogada), Elisângela da Rosa (pesquisadora) e Sallime Chehade (Pedagoga, Jornalista, Graduanda em Direito e Pós-graduanda em Psicologia Infantil, coordena o Movimento Social Diga não à Pedofilia há 7 anos, clique aqui e conheça a FanPage).

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