Quando tinha apenas 9 anos, Jessica Martinelli foi vítima de um crime que se estendeu por cerca de dois anos e meio. Aos 15, decidiu denunciar o abuso sexual que sofreu, mas enfrentou diversas dificuldades com as autoridades que procurou. 4u2y3c
Anos depois, aos 25, um pouco mais de um ano após ingressar na Polícia Civil em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, Jessica conseguiu prender seu próprio agressor, um amigo da família. Oito anos depois, aos 33, lançou um livro para contar sua história, intitulado “A Calha”. A obra foi publicada no final do ano ado com o objetivo de levar conforto e encorajamento a outras vítimas de crimes semelhantes.
No livro, Jessica narra os abusos que ocorreram entre seus 9 e 11 anos e meio, cessando apenas quando a amizade entre sua família e o agressor foi rompida. O homem, que tinha 33 anos quando os crimes começaram, se aproveitou da proximidade com a família para cometer os abusos.
Jessica lembra que não sentia abertura em casa para relatar o que acontecia, algo que é comum entre vítimas de violência. “Mas eu tinha necessidade de desabafar. Então eu desabafava com amigas do colégio ou uma vizinha minha”, contou. Uma dessas amigas compartilhou a história com a mãe, que conversou com Jessica e a incentivou a relatar o abuso a alguém de confiança. “Eu contei para quem eu confiava, que era a minha irmã”.
Aos 15 anos, Jessica e a irmã foram à delegacia para denunciar o caso, mas encontraram dificuldades para serem levadas a sério. “Eu tive que repetir milhares de vezes a mesma coisa, sabe?”, lamentou.
Ela acredita que sua vivência influenciou a escolha da profissão. “Eu olhava as fotos das mulheres policiais e via algo que eu queria muito ter: força. Essa força, essa coragem”, explicou. “Não é que entrei para a polícia para prender. Porque eu não ia imaginar que um processo ia levar 10 anos. É que as coisas foram acontecendo. E deixar bem claro que as coisas só foram acontecendo porque eu ia movendo as coisas, senão não ia acontecer”.
Jessica atua na Polícia Civil há oito anos e estava presente quando seu agressor foi preso em 22 de dezembro de 2016. “Os meus colegas o revistaram, mas fui eu que bati a porta da cela. E a sensação foi realmente de encerramento de um ciclo de 10 anos. Um ciclo muito doloroso, que nenhuma vítima deveria ter que ar”, afirmou.
Ela reforça a importância de contar para alguém de confiança. “Não deixe isso armazenado, pensando ‘eu não vou contar para alguém e isso vai ar’. Porque não a. Vai ter um momento que você vai estourar”.
Além disso, Jessica incentiva as vítimas a denunciarem. “Acredito que a prisão do teu autor faz com que isso auxilie no ciclo da cura”.